A diversidade, equidade, inclusão e pertencimento (DEI&P) no ambiente corporativo global passam por um momento de intensas transformações. O tema foi amplamente discutido no evento "Tendências Globais de Diversidade", realizado na B3 e co-realizado pela PlurieBR e Pulsely, onde especialistas exploraram as mudanças e desafios enfrentados em diferentes regiões, incluindo os Estados Unidos, Europa e América Latina (Latam). Este artigo examina as questões de retrocesso da diversidade, o impacto das novas regulamentações e as tendências emergentes em práticas inclusivas, oferecendo um panorama atual e projetando o futuro dessa pauta essencial.
O que é o backlash de diversidade?
No cenário atual, o "backlash" contra a diversidade — ou reação contrária às políticas de DEI&P — tem sido tema de grande debate. De modo geral, o backlash surge como uma resposta a práticas percebidas como "woke" (conscientização social) e políticas afirmativas, especialmente em contextos onde a diversidade foi intensamente promovida nos últimos anos. Nos EUA, por exemplo, políticas de ação afirmativa estão sendo revertidas em setores educacionais e corporativos, o que gera um impacto direto na representatividade e nas oportunidades de grupos historicamente marginalizados.
Impactos práticos do backlash
Redução de vagas e oportunidades para grupos sub-representados: A reversão de ações afirmativas e políticas inclusivas em empresas e instituições diminui as chances de acesso a empregos, promoções e outros benefícios para grupos sub-representados.
Efeitos na cultura organizacional: A retirada de políticas de DEI&P afeta o engajamento e o sentimento de pertencimento dos funcionários, especialmente em empresas onde esses valores eram centrais.
Influência na inovação e crescimento: A pesquisa demonstra que a diversidade é um motor de inovação. A falta dela, portanto, pode limitar a competitividade de longo prazo das empresas.
O fenômeno também se reflete na Europa, embora em escala e intensidade diferentes. Países com regulamentações mais rígidas, como Alemanha e França, mantêm esforços de DEI&P firmes. No entanto, mesmo nesses locais, a pauta de diversidade enfrenta críticas de setores que vêem essas iniciativas como forçadas ou desnecessárias.
Qual o impacto do cenário atual de diversidade em outros países para o Brasil?
O mercado brasileiro ainda está em uma fase de construção das políticas de DEI&P, e os efeitos do backlash em outros países podem impactar tanto positiva quanto negativamente as iniciativas locais. De acordo com Laura Salles, CEO da PlurieBR, o Brasil está distante de uma reparação histórica completa e, portanto, qualquer retrocesso global na diversidade representa uma ameaça significativa às conquistas feitas até agora.
Apesar desse cenário, algumas tendências positivas são observadas:
Aumento de Investimento em Diversidade no Brasil: Muitas empresas brasileiras têm aumentado seus orçamentos para iniciativas de DEI&P, reforçando que a pauta está se tornando uma prioridade estratégica.
Cultura Inclusiva como Diferencial Competitivo: Grandes empresas, como a B3, estão integrando a diversidade em seus valores essenciais, o que serve como exemplo para outras organizações e reforça a importância da inclusão como motor de inovação.
Inclusão e Pertencimento
Para além da diversidade, a ênfase hoje se volta para a inclusão e o pertencimento. Essa mudança reflete uma evolução das práticas de DEI&P, que, ao focarem em inclusão e pertencimento, tornam-se mais efetivas e duradouras. Somente diversificar o quadro de funcionários não é suficiente: é necessário garantir que todas as pessoas se sintam valorizadas e que possam contribuir plenamente.
Profissionais de DEI&P
De acordo com uma pesquisa recente do LinkedIn, em 2016 havia cerca de 5 mil profissionais atuando na área de DEI&P. Já em 2023, esse número saltou para impressionantes 250 mil profissionais. Esse crescimento reflete um aumento expressivo no compromisso das empresas com estratégias de inclusão, mostrando que a criação de espaços mais diversos e acolhedores não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica e social.
Esses profissionais possuem um conjunto de habilidades específicas que incluem:
Conhecimento em Políticas de Diversidade e Legislação: A habilidade de entender e implementar práticas inclusivas em conformidade com a legislação é essencial.
Competências em Gestão de Mudança: Alterar culturas organizacionais requer habilidades robustas de comunicação e gerenciamento de projetos.
Capacidade Analítica e Uso de Dados: A habilidade de usar dados para mensurar o impacto das iniciativas é essencial para o sucesso das políticas de DEI&P. Além disso, a diplomacia e a habilidade de comunicação se destacam como competências-chave, garantindo que as iniciativas sejam conduzidas de forma inclusiva e transparente.
Esses profissionais têm contribuído para uma maior conscientização e implementação de práticas de diversidade e inclusão, além de ajudar as empresas a entenderem como a diversidade impacta positivamente a produtividade e a inovação.
Conclusão
O momento atual da diversidade, equidade, inclusão e pertencimento no ambiente corporativo global é complexo. Embora exista um backlash (retrocesso), a diversidade continua sendo vista como um diferencial estratégico, especialmente no Brasil. O foco crescente em inclusão e pertencimento reforça a necessidade de ações que não apenas diversifiquem os ambientes de trabalho, mas que também criem espaços verdadeiramente inclusivos.
Para as empresas brasileiras, o caminho da DEI&P representa uma oportunidade valiosa. Com uma abordagem estratégica baseada em dados e um compromisso real com a inclusão, as empresas podem impulsionar inovação, melhorar seu desempenho financeiro e promover um ambiente de trabalho positivo para todos. Como afirma Vanessa Reis, Diretora Executiva da Great Place To Work, “A diversidade de inclusão vai permear a vida toda... ela vai ser constante”.