É nesse contexto que o recente adiamento da vigência da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que trata de programas de gerenciamento de riscos ocupacionais, revela uma situação preocupante nas empresas brasileiras: a maioria ainda não está preparada para lidar com a saúde mental de seus colaboradores de forma estrutural, genuína e baseada em dados.
Para muitas lideranças, o adiamento da NR-1 pode até ser considerado um alívio ou uma pausa na responsabilidade. Entretanto, essa prorrogação no prazo é reflexo de uma fragilidade nas organizações: a dificuldade em transitar do discurso para a ação efetiva quando o tema é o bem-estar psicológico.
Saúde mental deve ser inegociável nas empresas
Se antes a saúde mental era vista como um benefício opcional ou uma iniciativa pontual de marketing, a atualização da norma a transforma em uma responsabilidade formal e indiscutível.
Essa mudança exige que as empresas implementem ações concretas para a prevenção e o controle dos riscos psicossociais, sujeitando-se à fiscalização e, em caso de descumprimento, a multas.
Para a psicóloga Eduarda Cury, “é importante que as empresas adotem medidas estruturadas de cuidado com a saúde mental. Sabemos que esse movimento vem crescendo ao longo do tempo, mas ainda não está plenamente consolidado na nossa realidade”. A especialista enfatiza que criar um ambiente de trabalho psicologicamente seguro não é apenas uma escolha, mas uma necessidade estratégica.
Cury complementa essa visão destacando a amplitude necessária: “O investimento em saúde mental envolve toda a cultura de uma empresa, desde o fornecimento de um ambiente seguro, promoção do bem-estar no dia a dia, acolhimento, atividades complementares, entre outros, e isso precisa ser levado a sério”.
A psicóloga ressalta que a existência de normas regulamentadoras ajuda a conferir a devida importância ao tema, estimulando que lideranças cuidem não apenas de seus times, mas também de si mesmas.
A urgência da saúde mental corporativa
A necessidade de uma abordagem estruturada em saúde mental nas empresas nunca foi tão evidente. Dados recentes do Ministério da Previdência Social e do INSS mostram um cenário alarmante: em 2024, mais de 472 mil trabalhadores brasileiros precisaram se afastar temporariamente de suas atividades por questões de saúde mental.
Esse número representa um aumento de 134% nos benefícios concedidos em comparação com 2022, quando os afastamentos somaram 201 mil.
Os principais motivos desses afastamentos são, na maioria, reações ao estresse (28,6%), ansiedade (27,4%), episódios depressivos (25,1%) e depressão recorrente (8,46%). Os dados não apenas ilustram uma crise, mas também reforçam como o ambiente de trabalho é responsável pela geração de estresse, ansiedade e burnout.
As empresas precisam entender que cuidar da saúde mental não é apenas uma questão de lei ou compliance, mas uma estratégia de sustentabilidade organizacional. Os dados mostram que estamos diante de uma epidemia, que afeta diretamente a produtividade e a competitividade nos negócios, gerando custos altíssimos com afastamentos, alta rotatividade e perda de talentos.
Para Laura Salles, fundadora e CEO da PlurieBR, “a pauta da saúde mental é urgente e não pode ser mais adiada. O adiamento da NR-1, por exemplo, não deve ser visto como um alívio, mas sim como uma oportunidade crítica para as organizações deixarem de lado o improviso e, de fato, se estruturarem para construir ambientes de trabalho seguros e saudáveis, baseados em dados e ações efetivas.”
Caminhos para superar o improviso
A falta de dados concretos sobre a saúde mental dos colaboradores é um dos grandes desafios que o adiamento da NR-1 evidenciou. Muitas empresas ainda se limitam a ações superficiais, como palestras isoladas, sem indicadores consistentes ou planos de acompanhamento.
Salles enfatiza que, apesar de muitas empresas reconhecerem a relevância da saúde psicológica no trabalho, a abordagem ainda é superficial e intuitiva. “O discurso de que ‘cuidamos das pessoas’ não se sustenta sem métricas robustas”, alerta.
Para ela, a verdadeira prevenção de adoecimentos exige um diagnóstico preciso dos fatores de risco dentro de cada cultura organizacional. “Esse processo vai além de uma simples pesquisa de clima, demandando a coleta de dados qualitativos e quantitativos sobre bem-estar, carga de trabalho, relações interpessoais e senso de pertencimento. Sem esses indicadores, as ações são um tiro no escuro”, complementa.
Para superar essa fragilidade, as organizações precisam adotar uma abordagem estruturada. O relatório “Saúde Mental em Dados – Edição nº 13“, publicação do Ministério da Saúde de março de 2025, ilustra a urgência de políticas públicas e ações corporativas baseadas em dados e evidências.
Nessa jornada, as lideranças podem seguir alguns pilares para avançar no tema:
- Diagnóstico: Implementar pesquisas regulares de clima organizacional com foco em indicadores de saúde mental, incluindo níveis de estresse, qualidade do sono e satisfação no trabalho.
- Monitoramento contínuo: Estabelecer métricas como taxa de absenteísmo por causas psicossociais, rotatividade por área e frequência de conflitos interpessoais.
- Intervenções direcionadas: Desenvolver programas específicos baseados nos dados coletados, como treinamentos para lideranças, grupos de apoio e políticas de flexibilidade.
- Avaliação de impacto: Mensurar regularmente a efetividade das ações implementadas através de indicadores objetivos.
Adiamento da NR-1 como oportunidade
A transição do discurso para a ação efetiva exige um esforço que vai além de boas intenções: demanda conhecimento na área, investimentos em tecnologia e, principalmente, uma mudança cultural profunda.
Muitas empresas ainda improvisam, mas a falta de preparo para lidar com a saúde mental do(a) colaborador(a) cria um cenário de alto risco. É nesse ponto que organizações especializadas, como a PlurieBR, se tornam parceiras essenciais. Elas trabalham para suprir essa lacuna, oferecendo soluções baseadas em dados concretos e transformando insights em estratégias que realmente previnem adoecimentos e promovem ambientes saudáveis de forma estruturada.
A CEO da PlurieBR, Laura Salles, reforça a importância de uma abordagem estruturada. “Para construir um ambiente verdadeiramente seguro e saudável, as empresas precisam de um roteiro”, afirma.
Ela explica que não basta oferecer benefícios isolados como sessões de terapia ou yoga. É fundamental usar dados para identificar os principais gatilhos de estresse e ansiedade específicos para cada equipe.
A partir desse diagnóstico, é possível criar programas que resolvam os problemas em sua origem, seja por sobrecarga de trabalho, falta de transparência nas funções ou um ambiente de baixa inclusão. A PlurieBR, por exemplo, trabalha justamente fornecendo essa inteligência, transformando dados em estratégias de gestão de pessoas personalizadas e eficazes.
“Ao investir em bem-estar psicológico, a empresa não só cumpre sua responsabilidade, mas também colhe os frutos de um time mais engajado, criativo e produtivo”, complementa Laura.
As empresas devem aproveitar o adiamento da NR-1 de maneira estratégica. É uma chance para desenvolver, neste período, competências em gestão de saúde mental para sair na frente quando a norma finalmente entrar em vigor. Mais importante ainda: estarão protegendo seus colaboradores e construindo ambientes de trabalho verdadeiramente sustentáveis.
Em um mercado de constante evolução, a vantagem competitiva de amanhã será a de quem investiu em seu capital humano hoje.
Salles aponta que as empresas que usam o tempo do adiamento da NR-1 para construir uma cultura de segurança psicológica e bem-estar não estão apenas se preparando para a conformidade regulatória, mas estão inovando. “Elas demonstram um compromisso real com seus funcionários, o que impacta diretamente na atração e retenção de talentos. O investimento em dados, tecnologia e, principalmente, na escuta ativa dos colaboradores é o que irá diferenciar as empresas de sucesso daquelas que apenas cumprem o mínimo”, pontua.
O investimento em dados, tecnologia e, principalmente, na escuta ativa dos colaboradores é o que irá diferenciar as empresas que performam de forma excepcional das que simplesmente cumprem o mínimo. É uma chance de construir uma fundação sólida, baseada em respeito e confiança mútua, que gera benefícios a longo prazo para todas as pessoas.
Em um cenário onde a falta de engajamento de colaboradores é comum, a postura de lideranças e gestão se torna parte de um conjunto maior que deve falar uma linguagem única e humanizada.
O adiamento da NR-1 é um chamado à ação. Como mostram os dados, não há mais tempo para improviso quando se trata da saúde mental dos trabalhadores brasileiros. O caminho para o sucesso duradouro passa inevitavelmente por um compromisso genuíno e mensurável com o bem-estar de quem faz a empresa acontecer: as pessoas.