A meritocracia, conceito que apresenta a recompensa baseada no mérito individual, tem sido utilizada no discurso corporativo. No entanto, a visão tradicional da meritocracia ignora as desigualdades que impedem que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades. É nesse contexto que surge a meritocracia inclusiva – ou ainda, como apontam estudos recentes, a meritocracia diversificada –, conceitos que buscam equilibrar o reconhecimento do mérito com a promoção de Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento (DEIP).
O que é meritocracia inclusiva?
A meritocracia inclusiva reconhece que o sucesso não é resultado apenas do esforço individual, mas também das oportunidades e do contexto em que cada pessoa está inserida. Ela busca criar um ambiente de trabalho justo e equitativo, onde todo mundo tenha a possibilidade de desenvolver seu potencial e serem reconhecidos(as) por suas contribuições, junto de sua origem, gênero, raça, orientação sexual, perspectivas e outras características.
O termo meritocracia inclusiva, embora ainda não seja amplamente consolidado como conceito técnico, tem sido utilizado por especialistas e organizações para descrever práticas que conciliam excelência e equidade.
Conexão com o conceito de meritocracia diversificada
Um outro conceito que vem ganhando força é o de meritocracia diversificada, trabalhado por consultorias como a McKinsey. Ele reforça a importância da intencionalidade na construção de ambientes mais equitativos e na geração ativa de oportunidades. Ao integrar diversidade e meritocracia, empresas alinham seus valores à prática, promovendo resultados sustentáveis e inclusivos. Neste contexto, a própria McKinsey demonstrou publicamente que continuará apostando em políticas de diversidade e inclusão como estratégia para valorizar o mérito de forma mais justa e ampla. Essa decisão está alinhada à ideia de meritocracia diversificada, como foi destacado no artigo “Na contramão de Trump, McKinsey diz que seguirá com políticas de diversidade e inclusão” (Bloomberg Línea, 2023).
Contexto e origem
O termo “meritocracia” foi cunhado pelo sociólogo Michael Young em seu livro “The Rise of the Meritocracy” (1958). Young, no entanto, não defendia a meritocracia como um ideal, mas sim como uma crítica a um sistema que, em sua visão, perpetuava as desigualdades sociais. A meritocracia inclusiva surge como uma resposta a essa crítica, na disposição de consolidar dinâmicas baseadas no reconhecimento e identificação de todas as pessoas.
Aplicações práticas nas empresas
A implementação da meritocracia inclusiva nas empresas exige uma mudança de cultura, revisão de conceitos e a adoção de ações que promovam DEIP. Algumas estratégias práticas incluem:
- Recrutamento e seleção: Adotar processos seletivos afirmativos que valorizem a diversidade e busquem pessoas candidatas com diferentes perfis e experiências.
- Desenvolvimento e promoção: Oferecer oportunidades de crescimento para todas as pessoas colaboradoras, respeitando suas múltiplas características.
- Avaliação de desempenho: Utilizar critérios justos e e transparentes, que considerem o contexto, habilidades e condições de cada pessoa funcionária.
- Cultura inclusiva: Criar um ambiente onde todo mundo se sinta valorizado(a), respeitado(a) e seguro(a) para se expressar, promovendo pertencimento e segurança psicológica.
Exemplos didáticos
Imagine uma empresa que valoriza apenas o desempenho em vendas, sem considerar as diferentes realidades das pessoas vendedoras. Uma pessoa vendedora que vive em uma região com alta taxa de insegurança e baixa infraestrutura terá mais dificuldades em atingir suas metas do que outra com condições mais favoráveis. A meritocracia inclusiva reconhece essas diferenças e oferecer suporte para que toda a equipe tenha possibilidade de evoluir na carreira de forma sustentável e saudável.
Outro exemplo é uma empresa que oferece oportunidades de desenvolvimento apenas para as pessoas colaboradoras com bom desempenho em currículos tradicionais — desconsiderando contextos e acessos desiguais a formações ou redes. A meritocracia inclusiva busca oferecer oportunidades para todas as pessoas progredirem, com acesso a formações e ferramentas múltiplas de desenvolvimento – incluindo competências como confiança, posicionamento e protagonismo.
O equívoco entre mérito e diversidade
A ideia de que diversidade e meritocracia são conceitos excludentes ainda é comum, mas equivocada. A meritocracia inclusiva parte do princípio de que as pessoas não começam do mesmo ponto de partida e, por isso, é preciso reconhecer desigualdades para promover equidade.
O estudo A Diversidade Importa Cada Vez Mais (Diversity Matters, em inglês) – o quarto relatório de uma série da McKinsey que investiga a importância da diversidade nas empresas – reforça esta visão.
Ele mostra que empresas com equipes diversas e inclusivas têm melhor desempenho financeiro, maior capacidade de inovação e maior satisfação entre suas pessoas colaboradoras.
- Empresas com maior diversidade étnica e de gênero nas lideranças são, em média, 9% mais propensas a superar seus pares em desempenho.
- Por outro lado, empresas no nível inferior de ambas as diversidades são 66% menos propensas a ter performance superior — número que era de 27% em 2020.
- A análise mais recente mostra também que empresas com mais diversidade no Conselho de Administração são mais propensas a apresentarem desempenho financeiro superior.
- Pela primeira vez, a correlação entre diversidade nos conselhos e desempenho financeiro é estatisticamente significativa tanto para diversidade de gênero (27%) quanto para diversidade étnica (13%).
- Essas constatações confirmam a hipótese de que os benefícios da diversidade se estendem por toda a alta liderança corporativa, até o Conselho de Administração, onde muitas vezes são tomadas as decisões de políticas de DEIP para toda a organização.
Esses dados confirmam que a diversidade não diminui o mérito — ela o potencializa.
Conclusão
A meritocracia inclusiva é um conceito essencial para empresas que desejam alinhar performance com responsabilidade. Ao reconhecer o valor da diversidade e promover a inclusão, é possível construir ambientes em que todas as pessoas tenham condições de alcançar seu melhor – pessoal e profissionalmente. Esse é o caminho para uma cultura de pertencimento, inovação e resultados sustentáveis.
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